Imagens que resistem: o papel do design gráfico na luta LGBTQIAPN+

Autor: Igor Horbach Carvalho - estagiário de jornalismo

Através da análise de periódicos brasileiros entre as décadas de 1970 e 1990, o doutorando Júlio Teodoro investiga como o design gráfico teve papel central na construção da identidade e dos estereótipos da comunidade LGBTQIAPN+.

As imagens, as cores, a diagramação e até as poses dos modelos retratavam muito mais do que estilo. Comunicavam experiências, reforçavam estereótipos e davam forma a um imaginário coletivo que segue influenciando gerações.

As publicações da época, muitas vezes marginais ou de circulação restrita, assumiram um papel fundamental no diálogo com a comunidade gay. Segundo o doutorando, “a função de todo material é comunicar, mas mais do que isso, comunicam experiências, estilos, modos de vida”. Revistas e jornais ajudaram a consolidar padrões visuais que hoje podem parecer banais, mas que à época foram ferramentas de afirmação identitária ou, em alguns casos, de exclusão dentro da própria diversidade LGBTQIAPN+.

Um dos pontos centrais do estudo é a prevalência de temas ligados à saúde, especialmente em períodos marcados pelo avanço da epidemia de HIV/AIDS. O pesquisador observa como esses temas eram relevantes para o contexto, pois estabelecia um diálogo mais direto com a comunidade que precisava se informar longe dos olhos preconceituosos da sociedade.

As escolhas de layout, tipografia, enquadramento e direção de arte também contavam histórias. O pesquisador chama atenção para a forma como a diagramação revelava códigos da época como quem era retratado, em que posição, com qual iluminação e vestimenta. No contexto mercadológico, ser gay ou a significar ter um certo tipo de corpo, consumir determinadas marcas e frequentar certos espaços. A imagem, portanto, não apenas representa, mas impõe estilos de vida que delimitam pertencimento ou exclusão.

“O que eu critico na minha tese também é essa perspectiva, pois ela coloca o futuro lá na frente e o ado lá traz como se fosse uma coisa resolvida. O ado não está resolvido”, afirma Júlio. Para ele, compreender essas imagens é também uma forma de disputar as narrativas históricas sobre os corpos dissidentes no Brasil. “Eu não estou pensando na história LGBT, estou pensando na história do Brasil. A gente é o Brasil”

Ao trazer à tona a força simbólica do design gráfico na construção da identidade LGBTQIAPN+, o estudo evidencia como o visual é político e como ele segue sendo um campo de batalha crucial na luta por visibilidade e direitos.

Esse foi o tema do episódio do programa da TV Uninter, Pajubá, veiculado no dia 30 de maio. Confira abaixo o episódio completo:

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Autor: Igor Horbach Carvalho - estagiário de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Revisão Textual: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação


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